Caminhos para embalagens melhores em 2021

Tenho recebido muitas informações de associações, institutos de pesquisas e portais de notícias nacionais e internacionais. Leio, estudo, comparo e reflito sobre estes documentos. resolvi compartilhar algumas conclusões. 

­­Várias grandes empresas donas de marca declararam suas metas de redução de impacto ambiental. a gran­­de maioria definiu metas como:

•          Ser carbono neutro; e/ou 

•          Usar embalagens 100% reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis. 

A pandemia do coronavírus exacerbou a preocupação de todos com a sustentabilidade ambiental, porém aumentou a utilização de embalagens descartáveis e os sistemas de reciclagem foram interrompidos. A maior conscientização ambiental e de sustentabilidade mostrou que podemos reduzir as emissões de carbono e ver a vida florescer. 

  1. Reciclagem: a grande questão: as partes interessadas cumprirão suas metas de Reciclagem? Em setembro, a Waste Management publicou um relatório que identifica lacunas no sistema de reciclagem de plásticos. “Traz um pequeno roteiro para 2021”, de acordo com Nina Goodrich, diretora da Sustainable Packaging Coalition e diretora executiva da GreenBlue. 

Segundo o relatório apenas 30 % do PET é coletado e a maior parte é destinada para fibra. Goodrich questionou: “Como alguém cria um sistema onde há 100% de conteúdo reciclado e reciclabilidade quando você tem mais de um mercado exigindo esse material? “ou seja: as empresas interessadas terão que realizar um sistema colaborativo entre os setores que contemple todas as partes. 

  • Reutilização A Loop está crescendo rapidamente No ano passado, a TerraCycle concluiu o aumento de capital de US$ 25 milhões para a Loop. A empresa está se movendo para atender restaurantes de serviço rápido, incluindo Burger King, McDonald’s e Tim Hortons em 2021. O Carrefour é o primeiro varejista a oferecer o sistema de reuso, da Loop, na França. E outros 15 varejistas com os quais a Loop trabalha estão começando a lançar lojas em seis países, em 2021, de acordo com Tom Szaky, CEO e fundador da TerraCycle. E a Loop é apenas uma das plataformas de embalagem reutilizável que apresenta forte crescimento. 

A Al Natura, loja alemã de produtos naturais, lançou uma solução de embalagem reutilizável em todos seus cafés: o Re Cup. O cliente pode adquirir um copo reutilizável (produzido a partir de polipropileno reciclado) por 1 euro e 30 centavos. A cada café consumido em seu copo Re Cup, o consumidor ganha um desconto de 30 centavos, ou seja, após quatro cafés ele já pagou seu copo. Ele pode ainda “comprar” a tampa e se o copo estragar pode ser trocado por outro sem qualquer custo extra. 

A Algramo é um projeto latinoamericano, que nasceu no Chile, e utiliza sistema de compras a granel com embalagens reutilizáveis. Em Santiago, capital do Chile, a empresa ampliou a sua rede de distribuição para mais de 2 mil lojas familiares que atendem mais de 325 mil clientes. O modelo permite que os clientes comprem o quanto quiserem de produtos básicos, como detergente ou arroz – seus parceiros de marca incluem Unilever e Purina. 

“No começo, eu estava construindo contra as marcas. Percebi que o verdadeiro inimigo era a embalagem”, afirmou o cofundador e CEO da Algramo, Jose Manuel Moller Dominguez. Essa frase faz tremer toda a indústria de embalagem e nos remete a considerar o papel da embalagem neste novo contexto. 

A empresa planeja testar um modelo diferente em Nova York, nos Estados Unidos. As quantidades que as pessoas poderão comprar provavelmente serão menos flexíveis. Os bairros escolhidos para os testes iniciais oferecem potencial de atingir uma comunidade diversificada, tanto em termos de nível de renda quanto de etnia. Muitos novos pilotos de reutilização de embalagens estão surgindo, como a Good Goods, uma startup da cidade de Nova York, que incentiva os clientes a devolver suas garrafas de vinho ao ponto de venda ou para as dezenas de outros projetos relacionados no relatório “Reutilizar – Repensando a embalagem da Ellen MacArthur Foundation. 

“Estamos em uma era de experimentação e precisamos interrogar continuamente quais são as consequências não intencionais quando você muda de um sistema para outro”, disse Kate Daly, diretora-gerente da Closed Loop Partners. “

Nós realmente queremos ter certeza de que as escolhas sustentáveis, como embalagens reutilizáveis, não sejam limitadas apenas para pessoas que podem pagar a mais por seus produtos. Também é importante garantir que os reutilizáveis tenham vida útil mais longa e maior taxa de retorno e que sejam recicláveis e recuperáveis no final de sua vida útil”, conclui. 

No Brasil, algumas empresas têm testado a distribuição de produtos de limpeza através de vans regulares, que percorrem as ruas de alguns bairros para vender a granel. Até porque este serviço sempre existiu de forma informal em várias cidades pequenas e até mesmo na periferia de grandes cidades.

  • Compostáveis versus alimentos

Os biopolímeros e os materiais compostáveis estão rapidamente se tornando uma alternativa às embalagens descartáveis, mas há uma variedade confusa de materiais sendo desenvolvidos. Alguns materiais de base biológica, como o bio-PET, não são biodegradáveis. Enquanto isso, outros materiais de base biológica como o PLA (ácido polilático), um polímero natural feito de amido de milho ou cana-de-açúcar, são biodegradáveis, embora não da maneira que um consumidor possa supor que seja. A confusão sobre estes termos é enorme na mente dos consumidores. Pior é a questão de green washing que propositalmente criam. Já que estamos na era de experimentação e precisamos sempre questionar quais são as consequências não intencionais quando você muda de um sistema para outro. Segundo o relatório, as alternativas compostáveis não são uma solução mágica porque não há infraestrutura de recuperação suficiente para recapturar seu valor total com eficiência. No Brasil, onde poderíamos levar tais embalagens? “Temos que repensar onde a compostagem é apropriada e onde não é. É uma solução muito boa onde há desperdício de comida”, disse Goodrich. Em resumo, compostar onde é possível reciclar é desperdício. Embalagens compostáveis onde falta infraestrutura não faz sentido. Devemos esclarecer o que quer dizer cada termo. 

  • De quem é a responsabilidade? 

Nos Estados Unidos, no mês passado, a Flexible Packaging Association (FPA) e a Product Stewardship Association (PSI) divulgaram uma declaração conjunta solicitando a extensão da responsabilidade do produtor (ERP) no final da vida útil de embalagens flexíveis e papel. 

O problema: Nos EUA, 40% do lixo doméstico são embalagens e produtos de papel (PPP) – incluindo embalagens plásticas, latas de aço e alumínio, garrafas e potes de vidro, jornais e papelão. No entanto, a taxa de reciclagem de PPP está estagnada em cerca de 50% há quase duas décadas, uma enorme oportunidade perdida de recuperar bilhões de dólares em materiais valiosos. 

A responsabilidade de gerenciar os resíduos de PPP recai sobre governos municipais e seus contribuintes em um momento em que os orçamentos públicos estão encolhendo. O sistema de reciclagem é subfinanciado, altamente fragmentado e carece de investimentos adequados em infraestrutura. Cada cidade coleta diferentes materiais. Como resultado, cidadãos bem-intencionados, confusos, muitas vezes, colocam os itens errados em latas de reciclagem, contaminando o material reciclável. 

As restrições à importação de materiais recicláveis na China e no Sudeste Asiático exacerbaram as falhas fundamentais dessa abordagem de reciclagem. Muitos municípios foram forçados a limitar os materiais aceitos, aumentar impostos, taxas ou até programas de reciclagem. Os produtores de PPP estão lutando para encontrar material reciclado de qualidade suficiente para cumprir seus compromissos públicos para embalagens com conteúdo reciclado. 

A solução proposta: 

As leis de “responsabilidade estendida do produtor” (EPR) para PPP fornecem financiamento sustentável para a reciclagem, transferindo a carga de governos e contribuintes para produtores de embalagens e donos de marcas. Essas empresas decidem qual embalagem colocar no mercado em primeiro lugar. Programas de EPR bem projetados exigem taxas moduladas que obrigam os produtores, por meio de incentivos financeiros, a projetar seu PPP para ser reciclável, conservar materiais e incorporar conteúdo reciclado em novos PPP. 

“Com este acordo, as empresas membros da FPA e os governos, empresas e organizações membros da PSI iniciaram juntos um caminho para fornecer alívio fiscal para os municípios, enquanto corrigem e expandem o sistema americano de reutilização e reciclagem”, disse Scott Cassel, executivo-chefe da PSI oficial e fundador. 

Notavelmente, a FPA não foi a única associação da indústria a intensificar a responsabilidade estendida do produtor. A Parceria de Reciclagem lançou “Acelerando a Reciclagem”, uma proposta que define as taxas que as marcas e produtores de embalagens pagariam para ajudar a financiar a infraestrutura de reciclagem residencial e a educação. Uma taxa de descarte proposta por tonelada poderia ser exigida em aterros, incineradores e usinas de transformação de resíduos em energia e a receita seria revertida para os governos locais destinarem para programas de reciclagem. 

Por toda a Europa e Canadá, os programas EPR para embalagens aumentaram as taxas de recuperação, reduziram a confusão e a contaminação fortaleceram a infraestrutura de reciclagem e criaram mercados para o material reciclado. Na Europa, onde o EPR foi estabelecido há décadas, países têm taxas de reciclagem de PPP acima de 70% e até de 80%. Enquanto isso, no Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é sempre protelada e anda a passos lentos. Falta priorizar esta questão. É preciso começar pela educação ambiental da sociedade; capacitar as cooperativas e o poder público que pouco conhece realmente tecnicamente. 

  • A questão da segurança alimentar 

A Amazon, Whole Foods, Trader Joe’s e a Ahold Delhaize anunciaram a proibição de certos produtos químicos tóxicos e plásticos em embalagem de alimentos. As novas restrições se aplicam aos produtos da marca Amazon Kitchen, mas não a outros materiais de contato com alimentos, como pratos descartáveis. Da mesma forma, nos produtos da linha 365 da Whole Foods, entre outras marcas destes varejistas. 

“As iniciativas da Amazon enviam um forte sinal às cadeias de supermercados de que elas precisam agir em conjunto para evitar os mesmos produtos que preocupam os cientistas”, diz Mike Schade, diretor de campanha da Safer Chemicals e Famílias saudáveis. 

“Nós realmente vemos um senso de urgência em torno dessas questões. A produção de plástico continua e mais materiais são descartados em aterros. E não somos capazes de recapturar esses materiais como um recurso valioso”. Schade tem visto uma atenção por parte de varejistas e cadeias de fast food, como o Sweet Green, não apenas para proibir os produtos químicos específicos, mas também restringir classes de produtos químicos. 

Atenção aos produtos tóxicos é crítica, como destacou um relatório sobre os impactos na saúde de produtos químicos como os desreguladores endócrinos encontrados em embalagens e outros materiais plásticos. O bisfenol A, ftalatos, substâncias per- e polifluoroalquílicas (PFAS) e dioxinas estão entre os produtos químicos que afetam os sistemas hormonais do corpo e podem causar câncer, diabetes e distúrbios reprodutivos e prejudicar o desenvolvimento do cérebro das crianças. Pior: esses produtos químicos são apenas a “ponta do iceberg tóxico”. 

6) 2021 e além 

Muito trabalho se faz necessário em 2021 e além para promover uma economia circular. O termo “lixo” é apenas uma forma errada de tratar o resíduo. É primordial resgatar o valor destes materiais já utilizados. Estabelecer a reciclagem como prioridade a partir de educação ambiental. A economia circular vai promover limpeza do ambiente, poupar recursos e gerar oportunidade de trabalho e renda para tantas pessoas que estão marginalizadas. 

Saúde e segurança alimentar deverão andar em paralelo. Se conseguirmos trilhar os pontos levantados, com certeza teremos embalagens mais saudáveis, seguras, com maior quantidade de material reciclado em sua composição. Evitaremos que mais recursos sejam extraídos e continuem esgotando o planeta. Pouparemos alimentos para mais pessoas. 

Assim, teremos: Embalagens melhores para um mundo melhor. 

Fontes consultadas: GreenBiz, Sustainable Packaging Coalition, Algramo, Loop, Inbev, GreenBlue, Waste Management, Terracycle, FPA, PSI, P&G, Unilever, AB-Inbev, Instituto de Embalagens, Abipet, Abiplast e Cempre. 

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