ÁFRICA DO SUL: CONTRA ESTEREÓTIPOS

UMA REFLEXÃO SOBRE A FALTA DE COMUNICAÇÃO COM A MAIORIA NEGRA NAS EMBALAGENS

Atualmente muito se fala em promover a diversidade e a inclusão. Neste Fronteiras, gostaria de mostrar as embalagens da linha “Oh So Heavenly” e provocar uma reflexão.

Em 2019, a Statistics South África (Stats SA) estimou a população em quase 60 milhões de pessoas. A população negra africana era majoritária (47,4 milhões), representando aproximadamente 81% do total. A população branca foi estimada em 4,7 milhões, a população de cor amarela e parda em 5,2 milhões e a população indiana/asiática em 1,5 milhão.

Porém ao visitar os grandes pontos de venda (supermercados e drugstores) das principais cidades, como Cape Town, Johanesburg, Pretória e Durban, notei que ainda há poucos produtos “dedicados” à população negra.

A linha de produtos “Oh So Heavenly” (tão celestial) foi especialmente desenvolvida para ser comercializada na maior rede de drugstores da África do Sul, a Click’s. A Click’s já conta com 632 lojas, incluindo as recentemente adquiridas da rede de supermercados PicknPay e está presente em todo país e agora também na Zâmbia.

A linha “Oh So Heavenly” concorre diretamente com produtos clássicos da Unilever, Beiersdorf e Procter&Gamble, como Nivea, Dove, Seda, Tresemmé, entre outros.

Os produtos da linha têm um preço menor e com isso ganham escala, competindo com as grandes marcas de forma próxima. Presente no mercado há mais de 20 anos, as embalagens sofreram poucas mudanças, seguindo o conceito das líderes internacionais e mantendo o design, seja no formato, cores e tipologia. Dentro da linha há produtos infantis, para corpo, cabelo e face.

Uma das sublinhas da marca é a de produtos que oferecem hidratação e perfume associados a paraísos exóticos como Egito, Marrocos e Tailândia. Oferecem creme de mão em bisnagas e potes e frascos para loção de corpo e body splash. As ilustrações remetem a flores e potes antigos. Os frascos usam decoração por rótulos autoadesivos com no label look, o que ficou muito delicado.

Surpreende o fato de os produtos de higiene pessoal não fazerem referências às pessoas negras, esmagadora maioria, mesmo nos produtos para cabelos. Apenas embalagens de fraldas têm fotos de crianças negras.

A impressão que fica é que optam por seguir as linhas internacionais, oferecendo produtos com “amplo espectro” que possam atender a todos. Diferente do que já vemos por aqui com produtos, até mesmo de empresas multinacionais, com variantes específicas para consumidores negros, como o xampu Seda e curativos específicos para pele negra lançados pela J&J.

Talvez pelo desejo de esquecer as feridas do regime do Apartheid, mesmo após 25 anos extinto.

Que brancos, negros, amarelos possam conviver juntos cada vez melhor, assim como as cores das embalagens, uma complementando a outra. Que possamos ter um mundo melhor.

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